terça-feira, 7 de julho de 2009

AS 1001 UTILIDADES DE UM CELULAR

As 1001 utilidades de um celular

Proibição do aparelho nas escolas gera polêmica e incita discussão sobre o seu potencial educativo


Por José Alves
Educarede

A proposta da aula é de Ana Carol Siqueira, estudante de licenciatura da Escola de Belas Artes – UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Nela, alunos do Ensino Fundamental e Médio utilizam o celular para estudar arte abstrata. Como? Após uma explicação sobre o conceito da corrente artística, o professor pede para o grupo fotografar algum ponto da sala de aula e, a partir da foto, criar uma pintura abstrata. Essa e outras ideias de uso educativo do telefone celular na escola estão no site da professora Andréa Guimarães Phebo e são fruto de um projeto que ela aplicou com universitários do curso de Educação Artística da Escola de Belas Artes – UFRJ. "Escolhemos o celular porque é uma ferramenta de convergência. Ele serve para a comunicação através de vários recursos: áudio, imagens estáticas e dinâmicas (vídeos) e escrita. É mais fácil encontrar um celular dentro da sala de aula do que uma TV, um DVD, um datashow, principalmente nas escolas públicas", diz Andrea.

A professora tem razão! Encontrar um celular em sala de aula ou em qualquer outro ambiente tornou-se corriqueiro nos dias atuais. Segundo dados da Anatel, em abril de 2009, o país possuía 154,6 milhões de telefones móveis em operação, o que representa oito celulares para cada dez pessoas. Dados da publicação A Geração Interativa na Ibero–América: crianças e adolescentes diante das telas - um estudo feito em parceria entre a Universidade de Navarra, na Espanha, a Fundação Telefônica e o EducaRede - apontam para o sucesso do aparelho celular entre os jovens de 6 a 18 anos de idade. Em São Paulo, nada menos que 82% dos estudantes que participaram da pesquisa afirmaram possuir um telefone móvel.

Se o aparelho é visto com bons olhos pelos estudantes e tornou-se financeiramente acessível, poderíamos usá-lo nas escolas com fins educacionais, certo? Sim, poderíamos, mas essa é uma questão que ainda gera polêmica. No último dia 03 de junho, uma lei que já vigorava em Estados como Pará, São Paulo e Rio de Janeiro, foi aprovada em âmbito federal. Trata-se do substitutivo da relatora, deputada Angela Portela (PT-RR), ao Projeto de Lei 2246/07, do deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), que proíbe o uso de telefones celulares nas salas de aulas das escolas de Educação Básica de todo o país, com exceção dos casos em que forem autorizados pelo professor ou administração da escola, com vistas ao desenvolvimento de atividades pedagógicas. Na avaliação da relatora Angela Portela, o objetivo é "assegurar a essência do ambiente pedagógico que deve prevalecer na escola. Sendo assim, a preocupação não deve se restringir aos estabelecimentos públicos, mas a todos aqueles que integram a Educação Básica". A parlamentar destaca que, com frequência, professores e gestores das escolas se queixam do "uso indevido, quiçá abusivo" desses aparelhos. "Entre os mais citados estão o troca–troca de torpedos, os jogos, as colas e as conversas ao telefone, mas há também menção a conteúdos relacionados com pornografia e violência".




Ouça a opinião do pesquisador Sérgio Amadeu sobre o tema.
Sérgio Amadeu, pesquisador de Comunicação Mediada por Computador e da Teoria da Propriedade dos Bens Imateriais, diz que "não tem sentido você proibir que os estudantes tenham acesso a um meio de comunicação que cada vez mais vai adquirir importância na sociedade. Ao contrário, se a gente tem problemas do uso indevido nas escolas, esse é um bom lugar para ensinar como as pessoas devem se portar com o celular". Amadeu ainda ressalta: "Se existem algumas coisas ruins, como por exemplo, a pessoa usar o celular para fazer um joguinho em sala de aula ou para fazer ligações, isso requer uma postura da escola em relação aos alunos. Se é impossível ensinar um comportamento de uso de celular a um estudante, o que será possível?". A professora Andrea Guimarães Phebo complementa: "A lei só vê um lado da questão: o lado da falta de educação e desrespeito da utilização. Se os próprios educadores não tiverem um olhar diferenciado sobre como podem transformar a ferramenta celular de "vilão" em "mocinho", a lei continuará impedindo que este instrumento tecnológico de múltiplas funções possa se transformar em ferramenta didática".


Boas ideias na cabeça e um celular nas mãos


Apesar da polêmica do uso do celular em sala de aula, várias experiências educativas com o telefone móvel vêm sendo realizadas no Brasil com escolas e grupos de jovens a partir de parcerias com iniciativas privadas. Uma delas é o Ensino_Arte_Rede, um programa de ensino de arte a distância para alunos da rede pública do Rio de Janeiro, integrantes do Projeto Tonomundo (do Oi Futuro - Instituto de Responsabilidade Social da Oi). Eles participam de um trabalho colaborativo e participativo entre o Núcleo de Arte e Tecnologia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (NAT_EAV) e um artista convidado, tendo como foco central o uso de novas tecnologias de comunicação. Em 2007, a ação foi desenvolvida pelo artista plástico Luiz Alphonsus de Guimaraens com estudantes da E.M. Roberto Weguelin de Abreu e da E.M.Professora Olga Teixeira de Oliveira, ambas na região do Grande Rio. A ideia deu luz ao projeto piloto Encontro em um Ponto, no qual os alunos foram incentivados a registrar com o celular o trajeto que percorriam da escola até o Parque Lage. Todo esse registro foi fotografado, filmado e publicado na Internet na forma de um mapa com os percursos e a vivência de cada participante.

Com o mote "lugar de aprender a fazer arte com o celular é na escola", o projeto MVMOB – Minha Vida Mobile, patrocinado pela Vivo, aposta nos conceitos de construção interativa do conhecimento, inclusão criativa e inovação no aprender. Por meio de um conjunto de ações culturais, busca estimular os jovens a se apropriarem das novas tecnologias e aguçar o interesse pela pesquisa e pelas capacidades de interpretação, síntese e criticidade. Os trabalhos escolares produzidos pelos estudantes (fotos, áudio ou vídeo) são postados no site do Minha Vida Mobile, gratuito e aberto a todos os jovens. Além de disponibilizar o ambiente para a criação de comunidades virtuais de professores e alunos, o projeto oferece prêmios, oficinas práticas (vídeo, foto, áudio, produção de notícia) e palestras.

Atividades com o celular também estarão contempladas na Comunidade Virtual Minha Terra - Aprender a Inovar, no EducaRede. O ambiente, com mais de 7 mil participantes, entre professores e alunos de todo o país, tem como proposta a promoção do letramento digital e do protagonismo juvenil por meio da valorização da diversidade cultural e a promoção do desenvolvimento sustentável do planeta. Para isso, os participantes montam equipes de reportagem e escolhem temas e pautas a serem desenvolvidos e publicados na página virtual do Minha Terra. O projeto vem inovando na utilização de diversos recursos da Internet, como o Twitter e ferramentas da web 2.0, e programou para o 2o semestre ações com o telefone móvel de forma integrada às temáticas propostas pelo projeto.

O celular também pode ser usado para capacitar jovens e aumentar as possibilidades de inserção no mercado de trabalho e na produção cultural das cidades. Um exemplo é o Na Mídia do Possível, um projeto do coletivo Mameluco Transfer, que tem por objetivo criar e produzir material audiovisual, como vídeos para Web, TV e cinema, além de produção musical, sempre com tecnologia barata e acessível. Valter Nu, professor de Semiótica no Senac-SP, roteirista, diretor de imagens e idealizador da ação, explica: "o projeto surgiu durante uma oficina na periferia de São Paulo. Percebi que a preocupação estava focada essencialmente no uso dos equipamentos. Depois que os oficineiros deixavam o local com as máquinas, sobravam pessoas com muitas propostas, mas sem condições de produzir nada". Desde então, as oficinas passaram a ser ministradas com a proposta de utilização de equipamentos baratos e edição de imagens em softwares simples e gratuitos. Além de usar máquinas fotográficas, webcam e palm top, os jovens também utilizam o telefone celular para gravar as imagens e participam de todas as etapas do trabalho, desde a captação em vídeo até a edição final. Assista a uma das produções, com o título "Deletado ou Excluído", que conta a história de Fernando, um garoto que sonhava em entrar na televisão para sentir como era a vida dentro do aparelho.

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